Geometria e o número Zero

A história do zero é uma história muito antiga, com raízes na matemática, milhares de anos antes da 1ª civilização, muito antes da escrita e da leitura. É um conceito oriental, nascido no crescente fértil do actual Iraque, tendo origem na maneira de contar babilónica, através do auxílio do ábaco. Chega ao Ocidente pelo Islão e tem raízes hindus e árabes. O nome indiano era sunya; o nome árabe era sifr; até chegar aos eruditos ocidentais que o transformaram numa palavra que soasse ao latim – zephirus. Os matemáticos chamam-na de cifra.
Mas hoje aquilo que nos parece tão natural, foi ao longo de gerações encarada como uma ideia estranha e assustadora com perigosas propriedades matemáticas que destruíam a lógica e destruíam o mundo. Um quebra-cabeças dos grandes matemáticos, físicos, filósofos, até hoje.

Se nos reportarmos para o pensamento matemático comum, o seu início está ligado à necessidade dos pastores contarem ovelhas e na necessidade de registar propriedades e a passagem do tempo. E como nenhuma destas tarefas requer o zero; as civilizações funcionaram perfeitamente bem durante milénios e sobreviveram sem ele. No fundo ninguém precisava de registar zero ovelhas ou contar zero crianças e foi por esta razão que as pessoas toleraram a ausência do zero durante tanto tempo, não era preciso um número para expressarem a falta de qualquer coisa.


No campo das artes:

Antes do séc. XV, as pinturas e desenhos eram na sua grande parte planos sem vida. As imagens eram distorcidas e bidimensionais e mesmo os melhores artistas não conseguiam desenhar cenas realistas. Foi o arquitecto Filippo Brunelleschi (1377 – 1446) quem primeiro demonstrou o poder do zero infinito, em 1425, através do seu desenho do Baptistério, no qual tudo converge para um ponto de fuga. Tudo recua, avança, diminui ou aumenta. No fundo o zero no centro da pintura contém uma infinidade de espaço, associando-se, por sua vez, ao infinito. Será este ponto um todo ou um nada?




in SEIFE, Charles (2000). Zero - A bibliografia de uma ideia perigosa. Lisboa. Gradiva - Publicações, L.da.


Zero, esse nada que é tudo.
Laisant

Fora esse grande Todo que me dá cabo da paciência! Viva o Zero, que me deixa em sossego!
Victor Hugo

Quem? O infinito? Diz-lhe que entre. Faz bem ao infinito estar entre gente.
Alexandre O’Neill